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Novos tempos… Novas atitudes

Os desafios dos últimos anos provocaram mudanças de paradigmas. Como sua empresa está se preparando?

Como um avião que ruma para longe da tempestade, a economia brasileira vai aos poucos encontrando seu caminho. Os números recentes demonstram que o País está lentamente se recuperando de uma das piores crises dos últimos 50 anos. O Brasil que emerge, no entanto, não será igual àquele que imergiu. Essa nova realidade sugere a revisão de atitudes e conceitos, de posicionamentos e de estratégias, em um mercado em que o consumo consciente e a transparência nas relações são algumas das novas regras do jogo.

Agora é a hora de as empresas fazerem o dever de casa: melhorar processos, rever conceitos e aumentar a produtividade, e isso não é exclusividade das grandes. Para não acabar na cesta de compra das gigantes ou engordar as estatísticas de companhias que fecham as portas, as pequenas e médias – que constituem um universo de mais de 98% das empresas ativas no País, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) – também precisam concentrar esforços para se aprimorar e se tornar mais competitivas. Os empresários que sobrevivem às turbulências econômicas já têm a ideia de quais caminhos seguir para retomar a rota do crescimento – tendo a inovação como principal combustível. Há, ainda, muitas previsões e poucas certezas, mas uma coisa não se discute: as novas tecnologias e a aceleração dos processos disruptivos mudaram para sempre a forma como as pessoas se comunicam e fazem negócio.

O meio empresarial mudou. E as transformações são profundas e irreversíveis. O que há 10 ou 15 anos era ficção científica hoje é uma realidade palpável: inteligência artificial, internet das coisas (IoT), economias compartilhadas, novos processos tecnológicos, entre muitas outras soluções, estão ao alcance das empresas, até mesmo das pequenas.

Negócios inovadores – e de alto impacto O contexto atual pede respostas novas – e rápidas – para os novos tempos. O conceito de sucesso nos negócios carrega agora cada vez mais um significado relacionado à inovação. Para acompanhar essa transformação, o empresário também mudou, e o resultado reflete claramente em um perfil mais dinâmico, informado, ético, com grande capacidade
de execução e, sobretudo, preocupação com a capacitação, numa busca voraz de acúmulo de conhecimento.

Para Luiz Guilherme Manzano, diretor de apoio ao empreendedor da Endeavor, a atitude se justifica, pois empreendedores bem preparados são mais capazes de criar negócios inovadores, enfrentar crises e gerar empregos – e, assim, ajudar a alavancar a economia. “Muitas vezes, o conhecimento e a experiência anterior do empreendedor são o diferencial competitivo do negócio. Pelo menos no início”,diz Manzano.

Foi assim com o administrador de empresas Vitor Torres. Sua insatisfação pessoal se transformou em um negócio – de alto impacto. Ao iniciar sua própria empresa, ligada à educação corporativa, o empreendedor de 34 anos sentiu a burocracia na pele, além do custo para manter a contabilidade em dia. “Era ‘a dor’ que eu estava enxergando”, diz. Como muitos de sua geração, que se acostumaram a usar bancos online e fazer compras em lojas virtuais, Torres passou a se questionar se não havia uma solução mais fácil e econômica para a questão. “Pesquisamos como poderíamos resolver esse problema, e assim veio a ideia”, conta. À época Torres tinha uma aceleradora de startups, na qual conheceu seu atual sócio, Fábio Bacarin. Foram dois anos desenvolvendo o projeto. Em 2014, Vitor e Fábio conseguiram trazer um dos tipos de serviço mais offline que existe para um ambiente digital, e provaram que a disrupção tem espaço no Brasil. Nascia a Contabilizei, um escritório de contabilidade online (na nuvem) com foco no atendimento de pequenas e médias empresas. “Conseguimos deixar toda a rotina transparente, simples e ágil. Os clientes têm acesso em tempo real a relatórios e balanços e contam com suporte de contadores e especialistas”, explica o CEO.Por ser tudo digital, o ganho em redução de custos é repassado para o cliente, atingindo, assim, a ousada promessa dos sócios de democratizar o serviço e gerar economia para os clientes de até 90% nos serviços contábeis.

A ideia prosperou, e em 2015, enquanto muitas empresas já perdiam o fôlego por conta da crise, a Contabilizei aumentou a base de clientes em impressionantes 1.200%, e o rendimento do negócio, em 700%. Com operação em 30 cidades do País, a empresa é hoje uma das maiores startups do Brasil. E vem chamando a atenção de grandes investidores.

Um aspecto interessante das empresas que mais crescem é que se culpa menos o ambiente externo. Para esses empresários a solução está “dentro de casa”. “São empreendedores inovadores, que sonham grande e criam empresas que transformam os setores em que atuam”, diz Manzano, da Endeavor, destacando que 90% das empresas de alto impacto – aquelas que crescem pelo menos 20% ao ano, por três anos consecutivos, em número de funcionários ou receita – são pequenas e médias. Assim como Vitor e Fábio, os empreendedores de alto impacto andam na contramão da crise, crescendo a taxas elevadas, graças à agregação de inovação, seja em produtos, processos, matérias-primas ou modelos de negócios. Para ter uma ideia de quantas são e de sua força, Manzano aponta para a existência de 31 mil empreendedores de alto impacto – pouco mais de 1% do total das empresas ativas brasileiras. O número parece baixo, mas a onda de choque que provoca é enorme: juntas, essas empresas são responsáveis pela geração de mais de 50% dos novos empregos do País.

Compartilhar para unir Outro movimento que, embora emergente, tem crescido bastante no Brasil é o trabalho em rede. Em resposta à mudança de comportamento do consumidor e ao próprio ambiente econômico, algumas empresas passaram a adotar estratégias de ajuda mútua, criando relacionamentos de cooperação com outras companhias, para que assim consigam lidar com as atuais exigências de mercado, bem como oferecer soluções completas para o cliente, sem precisar expandir o negócio. “Não se consegue atender a tudo sozinho, então as necessidades podem ser complementares.

Quando eu busco outro especialista garanto qualidade melhor a meu cliente. O custo de fidelizar é muito menor”, diz Iroá Arantes, gerente regional do Sebrae de São Paulo. Para Márcio Antonio Rodrigues Sanches, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), essa é uma prática que precisa ser mais estimulada.“Nós, professores, treinamos empresários para competir, agora precisamos treinar também para cooperarem entre si”, diz. Essa tendência tem se mostrado abrangente e duradoura. Grandes corporações também já passaram a adotar estratégias de cooperação para desenvolvimento de soluções em seus principais negócios. No setor financeiro, só para citar um exemplo, vê-se um movimento de aproximação, ainda que tímido, das instituições bancárias com as fintechs.

Antes a relação era de ameaça, hoje enxerga-se a possibilidade de novas construções. Isso se deve ao grande potencial de contribuição de muitas startups para o aprimoramento de serviços oferecidos pelas instituições financeiras “tradicionais”, que surgiram antes da internet. Assim, em alinhamento com uma tendência mundial, as empresas brasileiras do setor financeiro, além de estimular inovações “dentro de casa”, começam a investir também em parcerias com outras empresas, em incubadoras ou aceleradoras de startups para fomentar o ecossistema. (Saiba mais sobre as fintechs na reportagem da página 26).

Planejamento ainda é essencial Se antes a preocupação era única e exclusiva com a qualidade do produto ou serviço prestado, agora a nova realidade da economia e das empresas aponta para o aprimoramento do plano de negócio e a qualidade da gestão. “Quando se têm os alicerces de negócio bem trabalhados, a probabilidade de mortalidade do empreendimento cai drasticamente”, explica Arantes,
do Sebrae-SP. Nesse ponto, o especialista acredita que, hoje em dia, o empreendedor está mais consciente da necessidade de se estruturar bem antes de iniciar um negócio. Para Sanches, da FGV, o reforço da percepção de que é preciso mais transparência nos negócios foi outra lição que os últimos anos trouxeram para os empresários.

As empresas agora, independentemente do tamanho, assumem uma postura mais atenta a custos e mais exigente no cumprimento das normas, algo que, segundo o professor, já vinha evoluindo, mas ganhou mais força recentemente.“É difícil falar de negócios sem ter de lidar com a transparência das informações. Com as redes sociais, principalmente, ficou muito fácil ter conhecimento sobre a reputação de determinada empresa. O mundo digital deixou o ambiente corporativo e empresarial muito transparente”, diz Sanches. “O consumidor está mais preocupado com a prática, do que com o discurso das organizações.”

Para o empreendedor Vitor Torres, da Contabilizei, o empresário brasileiro que tem sucesso é o que não deixou de persistir. O que não desistiu e continuou investindo. “Todo dia há motivos para desanimar. Como qualquer jornada, desafios vão surgir, mas acreditamos na solução e nunca pensamos em desistir”, comenta, animado. Bom para eles, bom para o Brasil.

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